segunda-feira, 29 de setembro de 2008

De Terno e Apito



Tintureiro. É essa a profissão que com orgulho herdou do pai e começou exercer aos 13 anos. E foi através da profissão que conheceu muitos dos famosos “nomes de rua” da cidade, como os políticos Dr. Milton Bandeira e Fuad Chequer... Tecido Tropical inglês, Panamá e linho Brás Pérola são termos que entraram cedo no vocabulário do menino e não saíram até hoje. São 69 anos dedicados a lavar e passar ternos e o ofício já virou sobrenome: é só perguntar pelo “Deco Tintureiro” que vão saber informar!
Mas dentro de campo a coisa mudava. Manoel Santana, era esse nome que impunha respeito. Podia chamar de “seu juiz” que ele também atendia. Depois de deixar a carreira como atleta por causa de um problema no joelho (foi zagueiro do “Continental” e do “Ferroviário” na juventude), voltou com tudo numa outra posição. Foram mais de 20 anos apitando futebol em toda a região de Viçosa, numa época em que muitos jogos precisavam de reforço policial para impedir que os torcedores agredissem a arbitragem. Com humildade, mas sem modéstia, Deco não tinha o que temer. Era um juiz “enérgico, preparado fisicamente”, segundo suas próprias palavras, e sabia impor o respeito necessário em partidas complicadas (como um dos clássicos da região, Ponte Novense x Barra Longa).
Nas várias fotos que guarda dos anos de arbitragem, muitos dos rostos amigos que aponta não estão mais aqui. Com saudades fala do Professor Peterson, do Departamento de Educação Física da UFV. Grande amigo, o preparador físico foi responsável por convidá-lo para apitar um dos jogos que mais lhe marcou, “LUVE A x LUVE B”, entre os professores da UFV (o jogo foi num campo que não existe mais, onde hoje está o Centro de Vivência, ao lado do Prédio Principal). O ano era 1977, que ele considera o auge de sua carreira como juiz. E é desse jogo a foto ao lado. Á esquerda o Professor Guido, à direita Professor Peterson, e ao centro, nosso juiz.
A elogiada atuação na partida da UFV levou a um convite para apitar o próximo jogo de um time da LUVE, na cidade de Muriaé, contra um time composto por jogadores ‘famosos’, vindos do Rio de Janeiro. A partida foi num estádio de verdade, bem diferente dos campos sem alambrado onde tinha começado... E a casa estava cheia. Teve expulsão de jogador carioca, teve empate e teve penaltis. E ninguém reclamou do juiz.
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Deco encerrou a carreira como juiz em 1994. Hoje, aos 83 anos , dedica-se diariamente à tinturaria e a bater um bom papo com quem se interessar. Guarda com orgulho uma carterinha da Federação Mineira que lhe permite assistir a jogos de graça no Mineirão. Coisa que não faz muito, já que o time do coração é o Fluminense...
No momento, sua maior preocupação é o crescimento de Viçosa. Ele, que faz longas caminhadas com sua bengala observando a cidade, acha que “tanto prédio subindo, e estrutura nenhuma pra suportar”. É a voz da experiência...


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PS: não, a foto não é uma 3x4. Mas é que as vezes, quando o tempo passa, elas se perdem. Isso não faz de seus donos menos merecedores do nosso pequeno espaço.

5 comentários:

Luiz Eduardo disse...

Que legal, alguém que viu viçosa crescer e participou disso

Carlos d'Andréa disse...

Gostei, Mônica!

Unknown disse...

Que demais essa historia!!!
nada como um senhor de 85 anos para contar boas prosas!!
Daora o comentario dele "tanto prédio subindo, e estrutura nenhuma pra suportar"!!
não é só em viçosa que isso acontece!

Parabens Monica, bela materia!

Abraços!

Maristella Paiva disse...

ai que fofo nikita!
e adorei o p.s.
hehehehe

Joséllio Carvalho disse...

O futebol amador é muito forte em Viçosa.
Bom post, meninas!