quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A carteirinha

A maioria das pessoas acha suas fotos 3x4 horríveis. Principalmente quando são aquelas que se tira pra algum documento. Sabe aquelas? Que você bate e pronto. Já vão direto pra efêmera posteridade do papel (que dura até o dia em que você esquece a carteira na mesa de um restaurante)... No caso da Universidade Federal de Viçosa vão para o plástico, material em que as carteirinhas são impressas. E é de uma dessas carteirinhas que vem o retrato da nossa última “blogueira”.
Essa é Gabriele Ramos Maciel. Que junto com essa foto passou a ter, além de nome, um número: 55650, sua matrícula. E um código de barras. Só que essa foto é o final da nossa história, que começa antes (mas não tanto assim), em São José dos Campos.
15 de maio de 2006 era pra ser um dia normal para Gabi, como os amigos costumam chamá-la. Estava estudando na Universidade de Taubaté (UNITAU) havia dois meses, já estava adaptada. Ao entrar na Internet descobre que foi chamada pra Universidade Federal de Viçosa. “Como assim? Mas que raios de Lugar é esse?” Tinha feito a prova por sugestão da professora, mas sem nenhuma pretensão. Agora estava lá, procurando “Viçosa” no orkut, tentando decidir o que fazer da vida. Sonhava com a USP.
Acabou passando na UFV. Hoje ela até diz que talvez tenha sido melhor assim. Não era o que pensava na época.
Gabi não queria vir. Entrou em desespero, não sabia o que fazer. O pai disse que ela ia. Ela mesma não tinha tanta certeza. Fez uma oração. A cabeça ainda confusa. Queria sua casa, pai, mãe, seus cinco irmãos... Sem falar do namorado. Quatro meses recém completos. O que fazer? A) Terminar tudo antes de ir pra Viçosa B) Ir pra Viçosa e depois terminar tudo ou C) Continuar juntos apesar dos 558 Km de distância.

Era melhor pensar nisso depois. A matrícula é amanhã e "ele não atende a &*!%# desse telefone!" Foi para a rodoviária apenas com os pais e não se despediu de mais ninguém. Hoje ela ri ao contar, mas foi só entrar no ônibus que as lágrimas começaram a inundar o rosto.

Chegando em Viçosa veio a decepção. A cidade era mais feia do que tinha imaginado. Estava cansada, a sua reserva do hotel era só a partir do meio dia, e nem eram 7 ainda. O pão de queijo da padaria não ajudou a melhorar o seu humor. Dormiu do jeito que pôde no sofá da recepção e seguiu para a Universidade com o rosto ainda inchado pelo choro e os cabelos desalinhados. “É, até que aqui não é tão feio assim”. Depois de devidamente matriculada segue para uma minúscula salinha, onde se senta em frente a uma parede branca, num pequeno tamborete de madeira, pra tirar aquela que ela considera a foto mais importante de sua vida.

E isso nos traz de volta ao nosso retrato.

Sim, ela faz parte da maioria, e sim, acha essa foto horrível. Mas algumas lembranças é bom ter sempre guardadas no bolso.


***
Gabriele continua na UFV, e está cursando atualmente o sexto período do curso de jornalismo. Depois do primeiro período, que é sempre o mais difícil, já tinha se acostumado. Vai pra casa sempre que dá, o que não é muito, e hoje até acha Viçosa bonitinha. Em 10 de janeiro de 2009 ela e Leandro completarão 3 anos de namoro semi-presencial.
Já refez sua carteirinha duas vezes. Em nenhuma delas quis trocar a foto.


21 comentários:

Amanda disse...

certa vez tive um professor que disse q fotos eram memórias mortas em um papel. não concordo! acho que fotos (mesmo as com cara de 10 horas de choro..) são só um pedacinho de um monte de lembranças que a gente guarda... e algumas são eternas. a Gabi sempre estará guardada nas lembranças da carteirinha da ufv.. mesmo que ela fique toda apagada como a minha está.. e essa história sempre vai passar na cabeça dela qnd ela a vir. E olha que legal.. ela vai lembrar que depois de todos esses perrengues ela foi morar com as pessoas mais legais de viçosa e formar as MONGAS! e ser normal.. pq nem td mundo é anormal!:)

Débora Bravo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Débora Bravo disse...

Fantástico! Adoreiii o texto. Acho que todos passamos por isso que a Gabi passou né?! Passar em uma Federal seria a melhor notícia que qualquer vestibulando queria, MAS passar pra UFV significa (para muitos) ter que ficar longe de casa. Impossível não chorar no primeiro onibus e primeira despedida da família quando se vem pra Viçosa. Mas quando conhecemos realmente a cidade a vontade é de não querer sair. Nossa família podia estar aqui do lado né Gabi? E como assim a Monica queria ser jogadora de vôlei?! Achei que só eu tinha essa pretensão lá na sala. hahahahahha... E Mari, super te apoio e quero descontos e indicações dos filmes. ;))
Beiijos meninas.

Anônimo disse...

Essa chegada em Viçosa é triiiiste pra maioria dos calouros mesmo... Mas com o tempo a gente se apaixona. Não só pela cidade, mas principalmente pela UFV linda e os amigos que a gente faz...

Joséllio Carvalho disse...

Muito boa essa história!
Ah, e depois dela, eu também fui chamado! hauhauha
Abração, meninas!

Felipe Menicucci disse...

Boa Mary!!

muito legal isso, o texto tá bem bacana, da vontade de ficar lendo toda hora! heheh

Beeijo!

Maristella Paiva disse...

Maricota!!

Que tudo seu texto! Amei! Juro que consegui vislumbrar tudo que aconteceu com a Gabi. O choro, o desespero, a carinha de dúvida.. E me lembrei até da primeira vez que a vi, toda descabelada e desesperada! rs*
To adorando meninas! Mas agora quero um meeeeeu! hehehehe

Luiz Eduardo disse...

"Já refez sua carteirinha duas vezes. Em nenhuma delas quis trocar a foto."
Que profundo! Estou tocado... Eu quero trocar a minha foto da carteirinha, mas eu não perco ela de jeito nenhum...

Anônimo disse...

Que legal!!! Gostei da narrativa!!
Mas muda sua foto Gabi.. por favor!!
bjaooo da irmã que não teve o nome citado,
PAULA

Felipe_Liw disse...

Excelente texto!!!

parabéns!

Unknown disse...

Muito bom o texto Mary! realmente essa foto tem uma historia um pouco periclitante!!!
Um pouco antes dessa foto ser tirada, eu estava em Ribeirao Preto, ou seja, não pude nem dar um abraço de "força, que vai dar certo"!
Hoje tenho muito orgulho da Gabi por tudo que ela enfrentou!
auhauhauhauah gostei do "namoro semi-presencial"!!
11 horas de busão não é facil não! rs!

Beijos, abraços, saudações!

Agnaldo Montesso disse...

Muito bom!

Débora Antunes disse...

Como assim já fez a carteirinha 3 vezes? A minha ainda é a mesma, quando eu cheguei em Viçosa pensei que era muito feia também. Aliás, eu cheguei, fiz a matrícula e voltei para casa com aquela sensação de "o que eu fiz, o que eu fiz?", foi um momento de insanidade, mas até que tá bom né.
Ainda temos muitos Salutaris pela frente.

Tarcísio Oliveira disse...

Ow, muito interessante o seus blogs...
agora tô doido para ver quem será a próxima vitima...

beijos

Carlos d'Andréa disse...

Belo texto e ótima caixa de comentários! Quem será o próximo? Procurem algum desconhecido!! Abs, Carlos

Mary Azevedo disse...

Esse foi só um aquecimento/apresentação...
aguardem para breve alguns ilustres desconhecidos (uns nem tão ilustres, outros nem tão desconhecidos).

Anônimo disse...

caraca, o blog de vcs.bomba..é sério!! nunca os repórteres tiveram 16 comentários em um post!

parabéns meninas..blog original. texto bom! pensem no intercom.. publicar.. sei lá... o mndo é capitalista é preciso publicar..hahaha!!

do mais, como alguém consegue perder a carteirinha duas vezes e não muda a foto... só podia ser uma das MONGAS mesmo!!

ah, já coloquei o link do blog de vcs lá no Repórteres!

Unknown disse...

Excelente! adorei o texto, a gente se identifica em cada pedacinho...muito bom!
mas pq ela já refez a carteirinha duas vezes? fiquei curiosa..rs

Felipe disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Felipe disse...

Parabéns às meninas do blog, onde as fotos contam histórias!
Parabéns pelo texto! Muito bom!!!
Pelo menos na minha carteirinha eu não apareci careca, como muitos da minha turma... e sim, eu também achei Viçosa horrorosa da primeira vez. Agora fico pensando em deixar essa cidade que não é tão feia assim.

Mariana disse...

Meninas, prabéns pelo blog! Adorei a proposta!E Gabi, seu texto ficou muito legal!

O mais legal é que a história que vocês contam é apenas uma das muitas e possíveis histórias da pessoa apresentada... A imagem e o próprio texto nos permitem inferir outras e prováveis continuações destas narrativas...